Os amores de Camillo: (dramas intimos colhidos na biographia de um grande escriptor)

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Empreza Litteraria Lisbonense, Libanio & Cunha, Editores, 1899 - 435 pages
 

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Popular passages

Page 79 - Senhor, perdoai ao poeta, que não sabe as asneiras que diz!» Apenas lhe constou que era eu o instrumento da vingança de seu irmão, preferiu quebrar o instrumento, e deixar não só o fidalgo, que tambem o boticario em paz. Poeta era eu só n'aquelle quadrado de dez leguas: avisadamente conjecturou o homem que, esganando a musa que o verberára, abafaria aquelle respiraculo da detracção inimiga.
Page 113 - Já a pé ! — disse elle, admirado. — Ainda me não deitei. « Como?! — E abriu uma janella para aclarar o quarto. Observou-me, tomou-me o pulso, e mandou-me recolher á cama. Quiz resistir á ordem; mas eu mesmo senti a necessidade de cumpril-a. Não sei que tempo estive doente. Quando me ergui perguntei que remedios me tinham dado, e soube que estivera oito dias com pannos ensopados em vinagre na cabeça. Recordo-me vagamente de ouvir dizer uma vez o padre-mestre a outros: «Diz minha cunhada...
Page 299 - Eu inclinava o peito, crivado de dores, sobre uma banca para ganhar, escrevendo e tressuando sangue, o pão duma família. A luz dos olhos bruxuleava já nas vascas precursoras da cegueira. E eu escrevia, escrevia sempre.
Page 304 - D'isto me accommettia o receio de ter-me malquistado com a primeira benevolencia do rei. Enganei-me. O senhor D. Pedro V era um anjo: não sei dar-lhe outro nome. Foram estas as suas palavras: — Ainda aqui está?! • — E estarei amarrado com correntes de ouro áquelles varões de ferro. Deteve-se a pensar, e olhou para dois cavalheiros que estavam comigo. Depois me disse o que já referi concernente ao...
Page 209 - Olhavam ambas contra as agulhas do Gerez toucadas de nevoas. «E eu, que pedia ao Senhor um sorriso d'aquella mulher, e depois o somno do infinito esquecimento, abria uma lettra n'um tronco, e dizia no recesso de minha alma: , «Ella ha de v.el-a.
Page 305 - Sahiu o rei, e correu de novo as enfermarias, e retrocedeu quando se abriu a porta da prisão onde estava a senhora, mãe do menino, que vinha pela mão do general Caula. «El-rei chamou de parte o senhor infante D. João, naturalmente a dar-lhe a causa de não entrar n'aquelle quarto, onde a senhora, expondo-se á mera curiosidade de quem quer que fosse, ajuntava a humilhação inutil ao infortunio insanavel.
Page 53 - Creio que tinha eu então entre os quinze e os dezeseis annos. Scismava mais do que lia, e lia mais poetas que compendios escolares.
Page 246 - Venço p primeiro escolho, contrapondo-lhe a rara energia, o varonil esforço da minha ardente imaginação e vontade. *Acima da minha cabeça está a luz suprema e infinita que eu fito deslumbrada. . Essa luz compadecida convida-me a caminhar, apontando-me para um centro luminoso, cuja vista me torna febril. E...
Page 297 - Aquelle padre, como todos os bons padres dos meus romances, — e creio que os fiz sempre bons para andar sempre ao invez da verdade — copiei-o d'uma excepção, como outras excepções, que o leitor conhece.
Page 380 - Sinistra luz d'um cerebro queimado. Nas rugas do seu rosto macerado Transpira a cruciantissima tortura Que escurentou na pobre alma tão pura Talento, aspirações . . . tudo apagado ! Meu triste filho, passas vagabundo Por sobre um grande mar calmo, profundo, Sem bussola, sem norte e sem pharol!

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