Obras de Luiz de Camões: Eglogas. Elegias. Da creac̜ão e composic̜ão do homem

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Imprensa nacional, 1861
 

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Page 100 - Os outros pescadores têm lançado no Tejo as redes; ele só fazia este queixume ao vento descuidado: — Quando virá, fermosa Ninfa, o dia em que te possa dar a conta estreita desta doudice triste e vã porfia?
Page 174 - A machina do mundo parecia Qu'em tormentas se vinha desfazendo: Em serras todo o mar se convertia.
Page 168 - Mas isto he ja costume da ventura; Porque aos olhos que vivem descontentes, Descontente o prazer se lhes figura. Oh graves e insoffriveis accidentes Da Fortuna e d'Amor!
Page 170 - Hum' arte singular lhe promettia, Qu'então compunha, com que lh'ensinasse A lembrar-se de tudo o que fazia; Onde tão subtis regras lhe mostrasse, Que nunca lhe passassem da memoria Em nenhum tempo as cousas que passasse. Bem merecia, certo, fama e gloria Quem dava regra contra o esquecimento, Que sepulta qualquer antigua historia.
Page 166 - Porque o mal que possui se resuma, Imagina na glória possuída. Até que a noite eterna me consuma, Ou veja aquele dia desejado Em que a Fortuna faça o que costuma; Se nela há hi mudar-se um triste estado.
Page 164 - Aqui contemplo & gosto ja passado. Que nunca passará por a memoria De quem o traz na mente debuxado. Aqui vejo caduca e debil gloria Desenganar meu erro co'a mudança Que faz a fragil vida transitoria. Aqui me representa esta lembrança Quão pouca culpa tenho; e m'entristece Ver sem razão a pena que m'alcança.
Page 175 - Pimenta lhe tomara, fomos tomar-lh' a, e sucedeu-nos bem. Com uma grossa armada que juntara o Viso-Rei, de Goa nos partimos com toda a gente de armas que se achara ; e com pouco trabalho destruimos a gente no curvo arco exercitada : com morte, com incendios os punimos. Era a ilha com aguas alagada de modo que se andava em almadias, enfim outra Veneza trasladada.
Page 169 - E se nos bravos peitos faz abalo Um peito magoado e descontente, Que obriga a quem o ouve a consolá-lo; Não quero mais senão que largamente, Senhor, me mandeis novas dessa terra: 105 Ao menos poderei viver contente.
Page 21 - Of recia a espessura Um temeroso espanto; As roucas rãs soavam Num charco de água negra e ajudavam Do pássaro nocturno o triste canto; O Tejo, com som grave, Corria mais medonho que suave. Como toda a tristeza No silencio consiste, Parecia que o vale estava mudo.
Page 207 - Eu, servo sem valor; tu, sumo preço, em preço vil te pões, por me tirares do cativeiro eterno, que mereço. Eu, por perder-te; e tu, por me ganhares, te dás aos homens baixos, que te vendem, 75 só para os homens presos resgatares.