Camillo desconhecido: Erros que se emendam e factos que se aclaram.--Documentos inéditos

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Livraria Ferreira, l.da, 1918 - 444 pages
 

Popular passages

Page 121 - Vieira de Castro leu as primeiras cartas, e exclamou com vehemencia da alma indignada: — Deixa-me esmagar esta injuria que é atroz! • ^/— Não! nem uma palavra! Bem vês que eu não devo permittir que essas cartas sejam lidas. E não tenho outra justificação. O homem, que recebeu cartas d'essa senhora, vive e sabe que em meu poder não está nenhuma. Elle me defenderá quando a curiosidade dos meus detrahidores o interrogar. Não escrevas nem falles a tal respeito.
Page 36 - Senhor, perdoai ao poeta, que não sabe as asneiras que diz!» Apenas lhe constou que era eu o instrumento da vingança de seu irmão, preferiu quebrar o instrumento, e deixar não só o fidalgo, que tambem o boticario em paz. Poeta era eu só n'aquelle quadrado de dez leguas: avisadamente conjecturou o homem que, esganando a musa que o verberára, abafaria aquelle respiraculo da detracção inimiga.
Page 152 - D'isto me accommettia o receio de ter-me malquistado com a primeira benevolencia do rei. Enganei-me. O senhor D. Pedro V era um anjo: não sei dar-lhe outro nome.
Page 253 - E chorava. As lagrimas d'um pai, que me pareceu homem honrado de toda a boa fé de um burguez, commoveram-me e elevaram-me bem alto na gloria de um sentimento generoso, a ponto de eu olhar com baixo desprezo para o vão regosijo de torturar um insolente no potro em que elle proprio se sentara. Disse-lhe que suspendia a critica; mas não escrevia as mais ligeiras reflexões em abono do caracter de seu filho. Disse-lhe mais, que expiravam os meus compromissos no momento em que Ecco Popular, ou Patria...
Page 89 - Era n"um baile. Ondulava D'ouro e sedas o salão : O ar. que ali se aspirava, Escaldava o coração. Tinha fogo o olhar da virgem, Fogo d'amor, de vertigem. Qual o que inflamma o pudor; Tinha a mulher, anjo ou fada, Uma existencia encantada, Um condão fascinador!
Page 151 - Joaquim Xavier Pacheco, me asseverou que vira uma carta de Lisboa, dizendo que o senhor Conde da Ponte me ia enviar dois contos de réis por ordem do rei, apressei-me a desmentir a calumnia, ou a rebater a esmola sem mais vaidade que a do trabalho, que a si se basta.
Page 169 - A casa, onde vivo, rodeam-na pinhaes gementes, que sob qualquer lufada desferem suas harpas. Este incessante soido é a linguagem da noite que me falla: parece-me que é voz d'além-mundo, um como borborinho que referve longe ás portas da eternidade. Se eu não amasse de preferencia o socego do tumulo, amaria o rumor d'estas arvores, o murmurio do córrego onde vou cada tarde ver a folhinha secca derivar na onda limpida; amaria o pobre...
Page 44 - Porto, um becco fétido de coirama surrada, em uma esquina que olha para a viella dos Pellámes. Éramos dois os estudantes que occupavamos o terceiro andar com uma retorcida varanda de pau, esmadrigada, n'um escalabro de incendio, debruçada em ameaças sobre os transeuntes como a varanda de Damocles, muito mais perigosa que a lendaria espada, cujo gume deve estar muito rombo e puido da esgrima dos erudictos em Damocles.
Page 176 - Nas franças dos arvoredos fizera-se tambem o silencio d'esses outros poetas que nos ensinam a cantar, sem a discutir, a Providencia que lhes dera a sombra, as flores e as searas. Thomaz Ribeiro disse em nome das duas crianças que o contemplavam absortas : Somos de troncos robustos os louros, os tenros gomos. Das flores surgirão pomos ?. . . se Deus regar os arbustos!
Page 24 - A minha vida curiosa data de longe ! Pedi ao conselho de familia que me vestisse, eo conselho de familia, em reunião de 10 de Julho de 1837, deliberou que me vestissem n'um algibebe, e me reinviassem para qualquer parte...

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