Memorias do carcere, Volume 2

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Viuva Moré, 1862
 

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Popular passages

Page 186 - Os meus amigos perguntavam-me se os recebera, como certíssimos de que eu os enganava respondendo negativamente. Dei o boato como inventado no Porto, e ponderei-o como todas as calúnias que por aqui me assaltam, e eu esmago entre a sola ea lama. Quando, porém, um...
Page 187 - Sahiu o rei, e correu de novo as enfermarias, e retrocedeu quando se abriu a porta da prisão onde estava a senhora, mãe do menino, que vinha pela mão do general Caula. «El-rei chamou de parte o senhor infante D. João, naturalmente a dar-lhe a causa de não entrar n'aquelle quarto, onde a senhora, expondo-se á mera curiosidade de quem quer que fosse, ajuntava a humilhação inutil ao infortunio insanavel.
Page 98 - Aquele padre, como todos os bons padres dos meus romances, — e creio que os fiz sempre bons para andar sempre ao invés da verdade — copiei-o de uma excepção, como outras excepções, que o leitor conhece. É um padre António, que vive obscuríssimo numa aldeia chamada Samardã, em Trás-os-Montes...
Page 100 - ... das saídas para o degredo. Folheei os livros desde os de 1800, e achei a notícia com pouca fadiga e alvoroços de contentamento, como se em minha alçada estivesse adornar-lhe a memória, como recompensa das suas trágicas e afrontosas dores em vida tão breve. Sabia eu que em casa de minha irmã estavam acantoados uns maços de papéis antigos, tendentes a esclarecer a nebulosa história de meu tio.
Page 100 - Nesta Samardã passei eu os descuidos e as alegrias da infância, na companhia de minha irmã, que ali casou, e daquele padre António de Azevedo, alma de Deus, missionário fervoroso, que me podia ensinar tanto latim, tanta virtude, e só me ensinou princípios de cantochão, os quais me serviram de muito para as acertadas apreciações que eu fiz depois das primas-donas.
Page 29 - Formou pois o Senhor Deus ao homem do limo « da terra, e assoprou sobre o seu rosto um assopro .- «de vida; e recebeu o homem alma e vida.
Page 95 - Quando a alma fugia das ideias alheias para se infernar nas suas, lá ia a paciente razão arrancal-a, e de lá a vinha chamando com a luz da esperança, que parece alimentar-se do mesmo oleo santo, que flammeja e arde na lampada da religião. Da leitura passei á escripta. Tracei alguns capitulos do romance Annon de prosa, para a Revolução de Setembro, e traduzi uma novella, muito aprazível e consolativa, para o Commercio.
Page 100 - O romance escripto em seguimento d'aquelle, foi o Amor de perdição. Desde menino que eu ouvia contar a triste historia de meu tio paterno, Simão Antonio Botelho. Minha tia, irman d'elle, solicitada por minha curiosidade romanesca, estava sempre prompta a repetir o facto, alligado á sua mocidade.
Page 185 - D. * * *. O rei entrou, ea senhora foi chamada do corredor onde tinha o seu asilo de trabalho. Com a senhora veio um menino nos braços de sua ama. D. Pedro V cumprimentou a presa, perguntando-lhe o tempo de sua prisão. Reparou no menino, e acarinhou-o, perguntando-lhe o nome ea idade. A mãe respondeu pela criancinha, eo rei deteve-se a contemplar a infeliz. Ao lado do monarca compungido, estava o senhor marquês de Loulé, pensando, porventura, que naquele dia tinha de banquetear-se no palácio...
Page 187 - Este quarto é mau! — disse o rei, encarando no papel que rebordava da parede em rolos, formando caprichosas laçarias e cornijas. — Vive-se aqui — respondi. — Viveu neste quarto alguns meses o senhor Duque da Terceira, e...

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