Camilo, contra-revolucionario: depoimentos coligidos, prefaciados e anotados

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Portugalia Editora, 1925 - 166 pages
 

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Popular passages

Page 139 - Este quarto é mau! disse o rei, encarando no papel que rebordava da parede em rolos, formando caprichosas laçarias e cornijas. * — Vive-se aqui, respondi. Viveu n'este quarto alguns mezes o senhor duque da Terceira, e. . . «Sostive a phrase para deixar em silencio e desmemoria o açougue de i829. «— Agora deve estar a terminar o seu infortunio ? disse Sua Magestade. « — Hei de ser julgado em outubro.
Page 138 - Joaquim Xavier Pacheco, me asseverou que vira uma carta de Lisboa, dizendo que o senhor Conde da Ponte me ia enviar dois contos de reis por ordem do rei, apressei-me a desmentir a calumnia, ou a rebater a esmola sem mais vaidade que a do trabalho que a si se basta.
Page 123 - Penso que o suftragio popular deixará de ser suco gástrico do apparelho digestivo da política portugueza, quando o eleitor for tanto ou mais instruído e independente que o deputado eleito ; mas sendo isto, como é, um absurdo, o suffragio popular nunca poderá ser considerado um traço bastante serio da fisionomia do regimen representativo. Conheço pouco a engrenagem eleitoral ; mas, observando no Minho as saturnaes do suffragio popular, fiquei edificado, e estive vai não vai a dar vivas ao...
Page 76 - Tão longe está já de nós o facto dos jesuítas, e é raro, a respeito deles, escrever-se sem os recentibus odiis que Tácito desejava delir da credibilidade histórica. As iras de Pombal, postas na corrente da tradição, conservam ainda o calor que uma crítica em demasia transigente pretende sustentar na admiração pelo figadal inimigo da Companhia de Jesus. Não pretendo irrogar censura ao sr. Oliveira Martins, nem o impugno. Neste ponto de divergência inconciliável, admiro a habilidade,...
Page 139 - V era um anjo: não sei dar-lhe outro nome. Foram estas as suas palavras: — Ainda aqui está?! • — E estarei amarrado com correntes de ouro áquelles varões de ferro. Deteve-se a pensar, e olhou para dois cavalheiros que estavam comigo. Depois me disse o que já referi concernente ao...
Page 93 - A final, e muito a tempo, desertei às bandeiras dos mestres franceses, e entendi no melhor modo de descrever os usos e costumes da minha terra, os sentimentos bons e maus como por cá os tenho visto, as paixões como elas são cá, e como creio que elas são em toda a parte...
Page 43 - Não sei se foi algum ingente infortunio que me fez ir alliviar o pezo de minha cruz ao pó da cruz do Homem-Deus: devia de ser; umas quasi delidas reminiscencias do coração d'aquella idade me dizem que foi. O aperto da dor espertou-me na memoria as orações da infancia. A mãe, que eu não conhecêra, devia fallar-me n'essa hora. A luz, que depois me guiou no rasto dos grandes infelizes, caminho do Calvario, devia de preluzir-m'a ella...
Page 139 - Ora eu sabia que nenhum escripto de certos jornaes era estranho a el-rei, ea minha carta fora publicada em alguns, e encarecida n'outros como briosa acção. D'isto me accomettia o receio de ter-me malquistado com a primeira benevolencia do rei. Enganei-me. O senhor D. Pedro V era um anjo: não sei dar-lhe outro nome.
Page 102 - ... este anhelito de meus beijos coa-te fogo ao cere"bro ! Amo-te, porque careço de ti. Eu sou a Circe "dos gregos : bestifico tudo que toco, e em ti delego "o condão de radiares tua bestidade ao cerebro "de quem embarrar por ti. Proponho-me transfigurar, não já em cochinos, mas em mais nobres "alimarias, os regedores da coisa publica de Portugal. Tu, dilecto, vae caminho da gloria. Hoje és "deputado; d'aqui a pouco serás ministro.
Page 34 - O que eles sabem é que a religião do Crucificado, postos em prática seus augustos preceitos, é uma algema para a culpa, ea culpa conceberam-na eles — a sua vida social, a sua vida política, 44 a sua vida íntima, a sua estrada de áspides traiçoeiras até ao túmulo do corpo e do espírito!

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