Amor de salvação

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Em casa da Viuva Moré, 1864 - 252 pages
 

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Popular passages

Page 41 - ... um como borborinho que referve longe ás portas da eternidade. Se eu não amasse de preferencia o socego do tumulo, amaria o rumor d'estas arvores, o murmurio do córrego onde vou cada tarde ver a folhinha secca derivar na onda limpida; amaria o pobre...
Page 41 - ... que sob qualquer lufada desferem suas harpas. "Este incessante soido é a linguagem da noite que "me falia: parece-me que é voz d'além-mundo, um "como borborinho que referve longe ás portas da "eternidade. Se eu não amasse de preferencia o so"cego do tumulo, amaria o rumor d'estas arvores, o "murmurio do córrego onde vou cada tarde...
Page 41 - ... meus vinte volumes, eo meu tinteiro de ferro, estão hoje sob o tecto gasalhoso d'uma alma que eu n'outras eras encontrei na minha. Não sei ha que seculos isto foi, nem que congerie de abysmos nos separam para sempre. Parei aqui, porque ainda aqui, a tempos, se me figura rediviva a imagem do passado, ainda aquella alma se me hospeda no coração em instantes de sonhos do céo, ainda a pedra tumular das...
Page 41 - A casa, onde vivo, rodeam-na pinhaes gementes, que sob qualquer lufada desferem suas harpas. Este incessante soido é a linguagem da noite que me falla: parece-me que é voz d'além-mundo, um como borborinho que referve longe ás portas da eternidade. Se eu não amasse de preferencia o socego do tumulo, amaria o rumor d'estas arvores, o murmurio do córrego onde vou cada tarde...
Page 40 - Â minha tenda são uns vinte volumes, um tinteiro de ferro, e um cabo de penna de osso, que me deram n'outro ponto do mundo, onde ha quatro annos assentára tambem a minha tenda, — ponto do mundo que por um singular acaso implicava ao meu sestro vagabundo : era no...
Page 26 - Volvidos porém uns dois anos, as estatísticas iam delatando em aumento a criminalidade pública. Espanto no meu amigo autor, e desanimação melancólica nos editores! Não obstante, a gente grave continuava a dizer que o meu amigo, continuando a escrever por aquele teor e jeito, endireitaria o mundo. Os editores, porém, observando que o mundo se entortava cada vez mais para eles, recomendaram ao 303 escritor moralista que vendesse a eles romances, ea quem quisesse os sermões. Ora, deu-se o caso...
Page 42 - ... que, nos dias da mocidade fremente de más paixões, me refrigeravam a fronte, e disputavam ao encanto do mal, psalmeando-me o hymno de amor ao trabalho.
Page 40 - ... trezentas e oitenta noites— de Janeiro todas, que lá a dentro dos congelados firmamentos de pedra, reina perpetuo inverno, e giam as abobadas, não sei se lagrimas, se sangue, se agua represada nos poros do granito, — não impedia, vinha eu dizendo, que a minha penna, com o seu incansavel fremir sobre o papel, me aligeirasse as noites, e aos assomos da alvorada, me convidasse para a banca do trabalho, que foi o meu altar de graças ao Senhor, eo confessionario onde abri minha alma ao perscrutar...
Page 63 - Teodora, se tu então morresses, o teu rosto, trasladado em marfim, ainda agora nos seria a imagem dos lábios nunca despregados do beijo de algum anjo, ressabiado ainda da voluptuosidade dos anjos mal-avindos com o candor celestial. Mas tu cresceste! , e deformaste-te, ó crisálida1.
Page 252 - Este gozo, que nem contado pelos evangelistas eu acreditaria, sei agora que existe, abaixo do reino dos justos, entre os homens, no mundo de 1863, no Amor de Salvação!

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